A Festa do Dia da Pátria no Colégio Pio Brasileiro é esperada por todos. Inúmeros religiosos e religiosas, sacerdotes e leigos acorrem à nossa Casa, que é uma forte referência para brasileiros que vivem em Roma. Bem disse o Papa São João Paulo II, quando nos visitou: “O Colégio Pio Brasileiro é um pedacinho do Brasil em Roma”. Neste ano, um expressivo número de pessoas se fez presente na Capela de Nossa Senhora Aparecida, no interior do Colégio.
A Missa foi presidida por Dom João Braz de Aviz, Cardeal Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. Dentre uma centena de concelebrantes estiveram presentes Dom Geraldo Majella Agnello, Cardeal Arcebispo Emérito de São Salvador da Bahia; Dom Julio Endi Akamine, Arcebispo de Sorocaba; Dom Sérgio de Deus Borges, Bispo Auxiliar de São Paulo.
Várias autoridades estiveram presentes, dentre as quais destacamos: Sr. Luiz Felipe Mendonça Filho, Embaixador do Brasil junto à Santa Sé, e Sra.; Sr. Antonio de Aguiar Patriota, Embaixador do Brasil junto ao Governo italiano, e Sra.; Sr. João Carlos de Souza Gomes, Embaixador do Brasil junto a FAO, e Sra.; Sr. Embaixador Afonso Álvaro de Siqueira Carbonar, Cônsul Geral do Brasil e Sra.
Na sua saudação de acolhida, o Pe. Reitor assim se expressou:
“O Ofício de Leituras da Liturgia das Horas, previsto para o dia de hoje, nos apresenta uma bela carta que Jeremias escreveu aos exilados de Jerusalém na Babilônia. O Profeta encoraja o Povo de Deus a revigorar a esperança, ainda que não pudesse ‘cantar os cantares do Senhor em terra estrangeira’, em meio ao horror da dominação, do exílio forçado e da escravidão. Disse o Profeta: ‘Construí casas e nelas habitai-vos; plantai pomares e comei os seus frutos (…). Sim, eu conheço os desígnios que formei a vosso respeito, desígnios de paz e não de desgraça, para vos dar um futuro e uma esperança’ (Jr 29,5.11).
Nós que nos encontramos num exílio missionário, aqui em Roma, queremos enviar uma carta aos irmãos e irmãs do Brasil, através desta celebração, escrita com nossos sonhos de esperança, de justiça, de paz e de honestidade, neste momento dramático em que vive nossa nação. Em profunda sintonia com a CNBB, realizamos um dia de oração e de jejum, que se conclui com esta missa solene. Encorajados pela mensagem do Conselho Permanente da CNBB, nos unimos às nossas comunidades, que se mobilizam pacificamente na defesa da dignidade e dos direitos do povo brasileiro, ao celebrar o ‘Grito dos excluídos’, propondo ‘a vida em primeiro lugar’”.
Após a Missa, o Sr. Embaixador do Brasil junto à Santa Sé ofereceu, no Salão de Atos do Colégio, um coquetel a todos os presentes. Este momento de confraternização foi muito importante para o congraçamento de tantos religiosos, padres e leigos, brasileiros e amigos do Brasil. O clima de alegria contagiava a todos.
Homilia de Dom João Braz de Aviz:
“Nós celebramos este 7 de setembro com um sentimento misto: de um lado estamos apreensivos e sofridos, por termos descoberto que, como outros povos, estamos passando por um processo de dissolução dos valores. A experiência líquida atingiu a nós e está nos arrasando. Entrando nas redes sociais, vendo os meios de comunicação, percebemos como está a nossa pátria, o Brasil. O outro sentimento é que esta etapa da nossa história como um povo é significativa: estamos partindo de onde deveríamos ter partido desde o princípio, do povo. Sem excluir ninguém, sem criar estruturas ou ideologias que apresentam sonhos mas não uma realidade concreta de vida.
Este período podemos chamar de crise, no sentido positivo de transformação, de mudança, de parada, de aprofundamento.
Quero chamar a atenção para Jeremias. Ele diz que o Espírito que vem do alto foi derramado sobre nós. Nós cristãos sabemos que isso ocorre no batismo, na crisma e em toda a nossa vida. A história do Brasil, que foi feita pela luta de tantos povos, foi marcada também por uma missa inicial, pela fé cristã católica. Os acontecimentos dos séculos seguintes, até mesmo a eliminação de ordens religiosas, não tiraram do coração e da cultura do povo a religião. A nossa constituição defende a liberdade religiosa. Por outro lado, os valores do evangelho foram plantados em muitos lugares, de formas que há um povo inteiro que vive profundamente a sua fé.
Abrimos as portas a tantos povos. Adquirimos uma herança de tantas nações e ainda estamos em formação. Temos um caráter universalista, um espírito que acolhe, que aproxima. Estamos no período de síntese de tudo isso. Temos também uma chaga social que permanece aberta ao longo dos séculos: grande parte do nosso povo frequentemente não tem o mínimo para viver. Em hospitais são escolhidos aqueles que devem morrer e viver. Há lugares onde os mais frágeis não são defendidos. Por outro lado ficamos alarmados com a riqueza com que Deus favoreceu o Brasil e não é utilizada a favor da nossa nação.
O Espírito está presente em minha vida de cardeal, em nossos governantes, em nosso povo. Deus quer fazer de nossa nação um jardim. Temos responsabilidade diante da extraordinária natureza que Deus nos deu.
São algumas experiências que precisamos garantir, como a paz. Esta missa é centrada no pedido de paz. O Espírito de Deus gera em nós a justiça e a verdade. O que é a justiça? Na Bíblia é oferecer gratuitamente a salvação e é o que Deus faz. Temos a necessidade de fazer isso. A construção da justiça se desloca agora para dentro de nosso coração: é a forma que vemos o outro que deve mudar. O papa Francisco diz que a unidade não é uniformidade, mas uma composição harmoniosa feita com todas as diversidades.
Toda a questão dos bens: esperávamos que quando o bolo crescesse fosse repartido… mas parece que o bolo está inteiro! (Referência aos anos 50-60). Penso que nos ajudará em nossa humanidade: não nos desviarmos do Evangelho. Se vivermos o Evangelho, ele produzirá frutos. Abramo-nos à experiência comunitária da vivência do Evangelho. Não tenhamos medo da verdade!
Assumamos juntos a nossa pátria. Eu sou parte desse conjunto que cresce e amadurece. É um tempo de esperança. O papa Francisco diz que a nossa fé não é como aquele que anuncia a previsão do tempo; a esperança cristã é uma notícia de outro tipo: a porta está lá, e se eu me decido posso chegar até ela. Que Deus volte a habitar em nosso meio. Não deixemos de amar nosso Brasil. Que o Senhor nos dê também a independência espiritual, capaz de construir o homem e a mulher brasileiros como Deus quer. Amém”.
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