A última edição do projeto “Quintal de Cultura” do ano acadêmico 2017/2018 foi realizada na quinta-feira, 17 de maio, com o tema “O discernimento no fim da vida: obstinação terapêutica, eutanásia e suicídio assistido”, proferido por padre Maurizio Faggione, professor de Bioética da Academia Alfonsiana de Roma.
Padre Faggione apresentou o discernimento junto ao leito do enfermo como sendo um juízo prudente e não simples aplicação de regras a casos; a busca do bem em situações determinadas à luz dos valores evangélicos, ressaltando que quem crê não se relaciona com normas e sim com o Senhor.
“O discernimento é ato de uma pessoa que assume papeis diferentes, enquanto paciente, médico, enfermeiros, variando neste caso também a sua responsabilidade diante de decisões a serem tomadas. O ato decisional na relação médico paciente pressupõe a informação”, observou Faggione.
Ainda segundo o professor, no passado a relação era paternalista, em que o médico saberia o que seria melhor para o paciente. Este modelo cedeu lugar a certo protagonismo do paciente, no qual o médico informa e o paciente decide. Este modelo é simplista, na opinião do professor, uma vez que o médico é uma pessoa que é capacitada para ajudar as pessoas, não apenas para fazer um tratamento. O médico deveria ser a expressão de uma sociedade que se encarrega do doente, que não é um produto mercadológico.
O lugar privilegiado do discernimento é o diálogo médico-paciente, seguido de outras instâncias, como o Comitê de Ética e o Conselho de Ética, que ajudam a dirimir dilemas diante de decisões delicadas, como qual terapia aplicar. O professor afirmou que não basta que uma determinada terapia seja possível, é necessário que seja razoável para o bem da pessoa. Conservar a vida é um dever geral, mas não é lícito recorrer a qualquer meio terapêutico para este fim. A própria sabedoria da Igreja estabeleceu critérios perenemente válidos que iluminam o discernimento, como o da proporcionalidade e aquele que clarifica o que seja eutanásia: “Para um correto juízo moral da eutanásia, é preciso, antes de mais, defini-la claramente. Por eutanásia, em sentido verdadeiro e próprio, deve-se entender uma ação ou uma omissão que, por sua natureza e nas intenções, provoca a morte com o objetivo de eliminar o sofrimento. ‘A eutanásia situa-se, portanto, ao nível das intenções e ao nível dos métodos empregues” (Evangelium Vitae 65).
O professor finalizou abordando os desafios do chamado testamento biológico, que são terapias paliativas que visam proporcionar ao doente alívio nas dores, quando a cura não é possível, além de uma morte digna. Padre Faggione disse que acompanhar o moribundo e permanecer a seu lado quando nada se pode fazer é um eloquente testemunho do valor da vida.
O encontro foi promovido pelo Departamento de Cultura do Pontifício Colégio Pio Brasileiro e contou com a coordenação do Diretor de Estudos, padre Domingos Barbosa Filho.
Padre José Raimundo
Diocese de Amargosa – BA
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